terça-feira, 20 de novembro de 2012

Contos Mágicos - 2

FEITO BOTO AMANTE




" São demais os perigos desta vida, para quem tem paixão, principalmente quando uma lua surge de repente e deixa no céu como esquecida.
E se o luar que atua desvirado vem se unir uma música qualquer, ai então é preciso ter cuidado.
Porque deve andar perto de uma mulher, deve andar perto de uma mulher que é feita de música, lua e sentimento e que a vida não quer de tão perfeita.  Uma mulher que é como a própria lua, tão linda que só espalha sofrimento.  Tão cheia de pudor que vive nua."
(Vinícius de Moraes).





Noite clara, lua cheia.  Tudo calado, somente o voz do mar.  O vento bate no meu corpo semi nu, e a areia ainda morna sob meus pés, fofa, macia e leve feito carícia. Caminhando enamorada da lua sentindo ondas de calor e frio que subiam e desciam pelas minhas pernas, com pensamentos livres e profanos.  Meus cabelos roçam minha face, delicados como a brisa noturna e estremeço, de repente um barulho diferente no mar calmo, um mergulhar, procuro pelo horizonte e nada vejo, somente as estrelas que parecem tocar o mar.  Sento-me sem pudor na areia com pensamento vago, sentimento ardoroso, algo me chama para o mar, mas não sei o que é, talvez a água, andando calmamente despindo-me do pouco que vestia, sinto uma brisa fria no meu corpo nu, meus seios enrijecerem .  A espuma da pequena onda vem me receber, quente ainda está o mar.  A cor prata do mar se exibindo para a lua, não posso resistir, sinto-me envolvida e acariciada pela água, como se nada mais existisse e o mundo tivesse parado naquele momento para contemplar a obra prima natural.  De repente ele surge, feito boto amante emerge da água lentamente.  Não posso enxergar seu rosto, só seu contorno em meio efeito mágico prateado, andando em minha direção, não sinto medo mas quem será o desconhecido?  Vem se aproximando, sinto o mesmo calor subindo e ouço meu coração batendo forte e acelerado, sinto-me aquecer inteira, em um breve fechar de olhos vejo-o então a minha frente sinto sua respiração forte, o calor que sai do seu corpo moreno, sim agora posso vê-lo: bonito, traços fortes, olhar marcante, ombros largos, braços robustos, longos cabelos lisos e negros um homem extremamente diferente.  Tocou-me suave e firme no rosto, na boca, afagou meus cabelos e me trouxe para junto de seu corpo, podia sentir forte quentura e toques apertados, estremecia em seus braços e o mar e a lua intensificava ainda mais este momento.  sentia seu corpo, os cabelos, a boca...
... Sentir tocar seu corpo no meu, se quente ou frio não sei, só sei que arrepio.  Há de haver sopro, hálito fresco, talvez, quente também, cabelos carvão, olhos paixão, corpo calor, do pecado a cor.  Dedos e mãos profunda intimidade, boca canela, doce, quente e picante, macia a língua.  Sentir chegar, você estar bem perto, bem perto...  Mergulhar na sua nudez até não mais suportar, corpos sob o luar o meu a estremecer o seu a violar.  Como uma dança perfeita nos amávamos, nos beijávamos, nos obtínhamos por completo.  Já na areia molhada, rolávamos de prazer, lembro-me de ter ouvido o estalar da areia.  Quando não mais podia pensar o céu caiu sobre nós e num súbito gozo e gemido escorre o leite sagrado do prazer e tudo desaparece e só existe Ele agora.  Ele que feito Boto amante me tomou por inteira e sumiu em meio as águas do mar.  Pela manhã, nua ao raiar do dia, deitada na areia de uma praia sem banhistas.  Terá sido um sonho? Ou um delírio?  Ao tocar-me sinto algo que não estava em mim, um colar feito de sementes e conchas.  Um presente?  Sim é real, não foi um delírio, aconteceu.  Pela manhã, mais mulher, sentindo ainda o prazer de ter sido tocada pela primeira vez, sinto o calor morno do sol e olho esperançosa para o mar mais uma vez, visto meu leve vestido branco, descalça pela areia volto para casa, olho o mar com saudades...
Amanhã noite de lua cheia novamente, voltarei para vê-lo!  Será que estará lá meu homem robusto, índio bonito, filho do mar?

(Inspirado no folclore brasileiro do Boto cor de Rosa. Lana de Asgard).







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